A relação entre jornalistas e
políticos sempre foi revestida de tensões e influências mútuas. É uma
relação íntima, onde um precisa do outro. Contudo, a proximidade das
eleições acirra ainda mais a convivência entre estes “poderes” sociais
instituídos. E mesmo após o pleito, a consonância entre Jornalismo e
Política está longe de ser possível. E neste convívio intrincado, tudo
pode ser motivo para censura e truculência - até mesmo uma máquina
fotográfica.
Em 2011, o repórter Tiago Portela, de
27 anos, ganhou de presente uma máquina fotográfica, segundo ele, da
ex-deputada estadual, Antônia Pedrosa, mulher do recém-eleito prefeito
de Barreiras, Antônio Henrique. O profissional de imprensa trabalhou por
alguns meses para o candidato do PP. Todavia, terminou por optar atuar
ao lado da candidata do PSD, Jusmari Oliveira, atual prefeita da cidade.
Após sofrer agressões verbais e ter o
carro da empresa de comunicação TV Web fechado por um sectário do
político pepista conhecido por “Badú”, o repórter registrou na delegacia
de Barreiras um boletim de ocorrência no último dia 17. A versão de
Antônio Henrique é que o denunciante roubou uma máquina fotográfica de
sua esposa à época em que trabalhou para ela (e lá se foram oito meses!)
e que por esta razão seu funcionário foi atrás do jornalista. “Ele
simplesmente pegou algo que é nosso e que queremos de volta”, declarou o
pepista a um site de notícias de Salvador.
Tiago Portela segue afirmando que a
máquina em questão foi um presente de Antônia Pedrosa: “A mulher de
Antônio Henrique me deu quando eu trabalhava para eles. Eu não roubei
nada”. O jornalista já pediu a Comissão de Direitos Humanos e Minorias
da Câmara dos Deputados que interviesse na situação. “Somos livres para
nos expressar. Até quando jornalistas irão sofrer ameaças? Até que ponto
os políticos chegarão para impedir que a notícia chegue a todos?”,
declarou Portela.
“Lhe dei uma máquina, será que tu não entendes isto?”
Não há nenhum boletim de ocorrência
lavrado contra o repórter. Além disso, ele publicou recentemente no blog
TV Web alguns trechos de conversas que teve no ano passado com a esposa
do político pepista através de uma rede social. No dia 26 de novembro
de 2011, Antônia Pedrosa escreve para Tiago Portela o seguinte: “lhe dei
uma máquina, paguei 590 reais, será que tu não entendes isto?”. O
jornalista responde: “entendo e agradeço, a máquina a senhora me deu
porque quis”. Confira a conversa aqui.
O número de jornalistas que são mortos
por causa do trabalho que realizam está aumentando no Brasil. Só no
primeiro semestre deste ano foram assassinados seis. De 1995 para cá, já
foram mortos 41 profissionais da área no país, segundo a Federação
Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Conforme o órgão, a violência também
se dá através de agressões físicas, ofensas verbais e ameaças. A Fenaj
aponta que a maior parte da violência contra jornalistas é cometida por
agentes públicos, em especial políticos estaduais e municipais.
Impunidade
Para o representante da Fenaj, José
Carlos Torves, muitos dos crimes cometidos contra jornalistas ocorrem
porque os agressores têm a sensação de impunidade. Ele também afirma que
nas cidades do interior existem vários casos de violência contra
jornalistas que não são investigados por pressão política ou conivência
da polícia e do judiciário local.
Infelizmente, na Bahia, a censura e a
truculência ainda impera. Não há jornalismo investigado, há sim a
cumplicidade com os poderosos, onde só verdades convenientes podem ser
reveladas. Ou se é um jornalista corajoso ou submisso. E a este primeiro
sabe-se que será “inimigo do Estado”.
A liberdade de imprensa foi assegurada
no Brasil em 1821, através de um decreto assinado por D. Pedro I. Em
1968, a mesma liberdade foi cassada pela ditadura militar mediante o Ato
Institucional 5 (AI-5). Agora, mais de 190 anos depois, fatos como este
acontecido em Barreiras revivem a tenebrosa época militar, quando a
informação foi privatizada, a verdade manipulada e a liberdade
intimidada.
Via: FalaBarreiras
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